Finalmente deixei ele partir. Enquanto
constatava o quanto era inútil continuar tentando, meu coração se fechou. Não
chorei, não me senti mal. Só me pareceu certo socar o que eu sinto no buraco
mais fundo dentro do meu peito, até virar quase poeira. Me vesti do meu melhor
sorriso e tratei de cuidar da vida, porque ela não para.
Depois que ele se foi, uma palavra dele
não me faz ver o céu em tons de azul diferentes, o sorriso dele não me amolece
as pernas e um simples abraço não muda nada no meu dia. Ficou tudo tão...
vazio. As palavras antes tão numerosas dentro de mim se calaram. E meu peito
tão acostumado com uma bateria inteira de escola de samba, se calou num pop
rock de barzinho, daqueles que só se escuta uma música ao fundo.
Minha respiração é tranquila e meu
pulso não acelera só de ouvir seu nome. Saber se vai estar ou não no mesmo
lugar que eu, se tornou indispensável. Não me interessa e eu não quero saber. A
vida assumiu um tom pastel eterno, me sinto tranquila e de riso fácil. A
saudade se tornou inexistente, o que foi ótimo pra dor insistente dentro do meu
peito. Não me preocupo mais com o onde você está, nem com o que você estará
fazendo, me esvaziei de você e me enchi com o resto. Mas o maior problema com o
resto é que ele não é suficiente para encher esse vazio. É estranho não pensar
em você, nem querer você por perto.
Acho que no fim das contas me viciei
nas sensações que você trouxe. Não há calor, nem cores fortes. Talvez estar por
perto de você tenha feito essa parte de mim tão viva, borbulhar até ao ponto de
se por pra fora. Nunca fui uma pessoa calma, é bom constar. O meu negócio é
com as ondas altas e não com o leve balançar da água. Deve ser por isso que
gostei de você. Ter sua companhia é fazer tempestade no mar.
Abaixei as velas e peguei meus remos.
Ir pra frente sem impulsão é um pouco mais difícil, mas pra quem tem força de
vontade, chegar de volta onde o mar se agita não é tão ruim. Afastei as nuvens
pesadas no horizonte e coloquei meu biquíni mais bonito. Ficar deitada ao sol
não trás nada de novo, mas a melhor parte de dias ensolarados é que eles não duram
para sempre. Assim como o vazio que eu sinto, é só uma fase. E vai passar.
Thalyne Carneiro
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