É o terceiro zumbido seguido do meu telefone.
Abro os olhos sonolenta e tento não rir enquanto vejo de quem é a mensagem. É
sua. Três áudios onde sua voz está mais bêbada do que possa me lembrar de ter
ouvido antes. “Você não sabe o quanto é especial para mim...” diz o começo do
primeiro e eu penso em desligar, mas escuto até o fim. “Devia ter te dado mais
valor”, reviro os olhos. “No fundo eu também gostava de você” Rá, essa é boa.
“No fundo eu também gostava de você” Quando
se deu conta disso, meu amor? Enquanto dava em cima de todas as vagabundas
possíveis ou quando ocupou a cama da minha vizinha? Me seguro para não ser bem
mal educada e lembro daquele tempo em que fiquei apaixonada, você
definitivamente não me amava de volta. Por favor, me poupe e se poupe.
Resolvo ouvir o segundo. “Você lembra da
gente junto na minha cama” Merda. “De como era bom? De como parecia perfeito” É
nisso ele tem razão, era bom. Mas acho que ele precisa reconsiderar essa escala
de quão bom era, porque convenhamos, não era tão perfeito assim, hoje eu vejo.
“Ninguém conseguiu te superar até hoje” Me achei um pouquinho com essa, pena
que não posso dizer a mesma coisa.
Lembrei das mãos, do cheiro, do jeito que
pegava no meu cabelo. Dessa vez não senti nada. Acho que no fim das contas eu
só precisava de alguém melhor pra te esquecer, porque o que tem de mãos,
cheiros e pegadas melhores não tá no roteiro. Era bom, mas não sei ganha o
título de melhor não, esse você já perdeu há um bom tempo.
Mas vamos ao terceiro. “Você bem que podia me
dar uma chance, né?” Não mesmo. “Nós tivemos bons momentos” Sim, tivemos. “Se
você quiser, amanhã mesmo te busco. Te levo pra minha casa, pra gente repetir
os bons momentos” Arrá! Sabia que não ia demorar. Que mané bons momentos que
nada. Você só é mais do mesmo, e desse sorvete de baunilha sem graça e comum eu
não quero mais.
Respondi um “Uhum, vai dormir” e já apertei
aquela função maravilhosa chamada bloqueio. Quando o mel é bom, a abelha sempre
volta sim, mas não quer dizer que ele vai estar lá quando ela vier buscar.
Passar bem.
Thalyne Carneiro