sexta-feira, 25 de julho de 2014

A pequenez



Em particular a minha pequenez,
Tendo a vastidão do universo como parâmetro.

A pequenez do homem que
Com tanto sol lá fora tem a beleza
Só alcançada pelo photoshop como paisagem,

O poder do dinheiro como deus,
As páginas do Google como sabedoria.


Um mundo onde as aparências ditam os costumes.


Até amar hoje em dia é crime,
Pois amar agora tem que fazer sentido.
Descobriram uma forma de errar o amor.


Para que?


Pergunto-me...
Tanta pequenez,
A vida é tão sutil
E os problemas tão inventados.
Resolveram criticar até a forma como corto o cabelo.


Para que?


Em relação à vastidão do mundo,
Em comparação com a idade da terra...
Sou tão pequena!


SOMOS tão pequenos
E de vidas breves,
Por que você implica com as minhas roupas?


Prefiro apreciar minha pequenez
Na “etéreanidade” desses belíssimos pores do sol.


Anne Rangel


crédito foto: http://www.revelandoideias.com.br/fotografia/deslumbrantes-silhuetas-na-praia-ao-por-do-sol/

terça-feira, 15 de julho de 2014

Sorte é não ter um amor tranquilo


Som ligado, e começam os primeiros acordes de "Todo Amor que houver nessa vida". Realmente adoro essa música, mas acho que Cazuza e Frejat se equivocaram um pouquinho com a letra da música. "Eu quero a sorte de um amor tranquilo", bonita a frase. Mas eu acho que não quero um amor tranquilo.

Que coisa sem graça deve ser. Não tem história, não tem enredo, não tem frio na barriga. Se tem uma coisa que meus amores ao longo da vida me ensinaram, é que aquela sensação gostosa no estômago - sabe aquela de montanha russa? - é bem mais gostosa que a felicidade morna. Imagino um namoro cheio de eu te amo e buques de rosa todos os meses. Não tem surpresa.

Gosto mesmo é do arrepio da surpresa, do coração disparado por não saber qual é o próximo passo. Nada se compara ao sabor do desconhecido. O bom da vida é aquela marca que fica do novo. O gosto da falta, os segundos de preocupação com outro, a incerteza com o pensamento do outro não ser o mesmo que o seu.

Nada precisa ser absoluto. Não conheço um casal feliz sequer que não tenha dias de sol, dias de nuvens, ou uma chuvinha de vez em quando. Não consigo acreditar que relacionamentos felizes sejam sempre tranquilos. A paz selada após uma briga tem bem lá suas vantagens. Assim como um dia de preguiça e no silêncio da companhia um do outro depois de dias agitados é reconfortante. Não quero só esperar as coisas acontecerem, quero faze-las acontecerem.

Não quero um relacionamento dominado pelas brigas, mas me entenda. Nada nessa vida é tão sem graça que ter todos os dias tranquilos. Ir à praia depois de muito tempo, é bem mais gostoso que ir todos os dias. Quero sentir saudade, ter vontade de contar os minutos para um novo encontro e sentir no peito aquela necessidade do outro. Quero ter dias tranquilos tão gostosos quanto aqueles agitados. Quero balançar o mundo de alguém e ter aquela certeza de que não serei esquecida.


Bom mesmo é o beijo quando menos se espera, aquele aperto nas mãos quando se precisa e o melhor abraço do mundo dado quando se tem vontade. Deixa esse negócio de fruta mordida pra lá, meu amor. Corta esse trem e joga um açúcar, uma canela, qualquer coisa. Põe até um leite condensado se tiver. Quando se trata de mim, prefiro uma salada de frutas daquela de sentir orgasmos com o sabor, do que uma maçãzinha mixuruca que só vai me deixar com fome.

Thalyne Carneiro



quinta-feira, 10 de julho de 2014

EU




Não sou uma pessoa pronta
Eu posso me construir e desconstruir






Não sou uma pessoa só:
Sou a que ama e desama
A que cria e a que destrói
Sou quem mente e diz a verdade
A que sabe e a que dessabe.


Responsável pelo meu próprio eu e
Ativa em meu meio
Assimilo e acomodo o que me convém para
Construir quem sou a partir de interações de quem Somos.


Busco minha satisfação seguindo os prazeres...
Os prazeres da Carne                                              
                          Mente
                          Espírito.

Entre trocas me desenvolvo
Reforçando a mim individualmente sem negar o
Condicionamento que me faz parte do grupo.


E no meio de tantos signos
Vou desenvolvendo a
Arte de ser Humana.



Anne Rangel

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Isso também vai passar


Finalmente deixei ele partir. Enquanto constatava o quanto era inútil continuar tentando, meu coração se fechou. Não chorei, não me senti mal. Só me pareceu certo socar o que eu sinto no buraco mais fundo dentro do meu peito, até virar quase poeira. Me vesti do meu melhor sorriso e tratei de cuidar da vida, porque ela não para.

Depois que ele se foi, uma palavra dele não me faz ver o céu em tons de azul diferentes, o sorriso dele não me amolece as pernas e um simples abraço não muda nada no meu dia. Ficou tudo tão... vazio. As palavras antes tão numerosas dentro de mim se calaram. E meu peito tão acostumado com uma bateria inteira de escola de samba, se calou num pop rock de barzinho, daqueles que só se escuta uma música ao fundo.

Minha respiração é tranquila e meu pulso não acelera só de ouvir seu nome. Saber se vai estar ou não no mesmo lugar que eu, se tornou indispensável. Não me interessa e eu não quero saber. A vida assumiu um tom pastel eterno, me sinto tranquila e de riso fácil. A saudade se tornou inexistente, o que foi ótimo pra dor insistente dentro do meu peito. Não me preocupo mais com o onde você está, nem com o que você estará fazendo, me esvaziei de você e me enchi com o resto. Mas o maior problema com o resto é que ele não é suficiente para encher esse vazio. É estranho não pensar em você, nem querer você por perto.

Acho que no fim das contas me viciei nas sensações que você trouxe. Não há calor, nem cores fortes. Talvez estar por perto de você tenha feito essa parte de mim tão viva, borbulhar até ao ponto de se por pra fora. Nunca fui uma pessoa calma, é bom constar. O meu negócio é com as ondas altas e não com o leve balançar da água. Deve ser por isso que gostei de você. Ter sua companhia é fazer tempestade no mar.



Abaixei as velas e peguei meus remos. Ir pra frente sem impulsão é um pouco mais difícil, mas pra quem tem força de vontade, chegar de volta onde o mar se agita não é tão ruim. Afastei as nuvens pesadas no horizonte e coloquei meu biquíni mais bonito. Ficar deitada ao sol não trás nada de novo, mas a melhor parte de dias ensolarados é que eles não duram para sempre. Assim como o vazio que eu sinto, é só uma fase. E vai passar.


Thalyne Carneiro