Passei o dia todo pensando nela. Não
sei o que essa garota fez comigo, mas ela continua fazendo. Espero com
ansiedade, sem ficar encarando para ela não ver, a hora que ela vai vir até mim
e me dar aquele abraço apertado que eu já me acostumei. Escuto a gargalhada
dela com uma pontada de ciúmes, porque já tem um desses marmanjos dando em cima
dela, será que não percebem que ela é minha? Quer dizer, acho que é... Ah, do
que que eu tô falando. Ela é só mais uma. Ou não?
Perco o fio do pensamento quando
sinto o cheiro dela ficando mais forte, ela vem por trás de mim e me dá um
beijo no rosto. Enquanto viro para olhá-la, o meu sorriso se espalha lentamente
na minha cara e percebo com prazer que é um reflexo do mesmo sorriso que aparece
no rosto dela.
Faço uma piada enquanto a tiro do
chão com um abraço apertado. Observo o quanto a pele dela ganha um tom rosado e
fico pensando como mesmo sendo tão extrovertida ela possa ficar tímida perto de
mim. Demoro mais que o necessário para solta-la e fico feliz em perceber que ela
gosta disso tanto quanto eu.
Então ela sai batida, como se nada
tivesse acontecido. Começa a fazer o que tem para fazer e me pego observando
cada centímetro do corpo dela. Cada minúsculo pedaço de pele que está à vista e
que conheço tão bem. Me pego lembrando a sensação de tê-la só pra mim, dos
suspiros que causei nela e da cara de contentamento que ela tenta esconder de
mim.
E ela brinca comigo. De vez em quando
a pego olhando pra mim e como criança sendo pega roubando doce da mesa, ela me
olha sem graça e cora mais uma vez. Sorrio pra ela e a vejo sorrir de volta.
Esse sorriso que me derruba e me faz querer ser o que ela quiser pra ela.
Outras vezes ela nem me dá bola, espero ansiosamente que ela olhe pra mim, mas
é como eu nem estivesse no mesmo lugar que ela. E isso me mata, me faz pensar
se ela finalmente cansou de mim, finalmente se tocou de que sou um problema e
ela tem que ficar longe. Mas ela continua aqui.
Com ela posso ser quem eu sou e falar
o que eu quiser. Ás vezes penso que passei dos limites e olho preocupado pra ela,
achando que agora consegui assustá-la. Mas ela apenas me olha com olhar de
interesse e me pede mais informações, como se eu contasse a historia mais
interessante do mundo pra ela.
A verdade é que acho que gosto dela.
Gosto mesmo, sabe? Da preocupação dela comigo quando sabe que não tô bem, da
maneira que ela ri de mim e do jeito mandão dela que some e deixa ela mansinha
quando está perto de mim. Gosto do que ela me faz sentir, do beijo que se
encaixa perfeitamente e do jeito que ela se arrepia quando eu beijo o seu
pescoço. Gosto de quase tudo, até do jeito que ela mexe no cabelo e morde a
boca de preocupação, mas tenho medo de contar pra ela e perder a melhor parte
de nós. Que eu nem sei se é um nós mesmo, mas adoraria que fosse.
Thalyne Carneiro
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