Mais um dia comum. Peguei o ônibus de sempre, na parada de sempre
e sentei no lugar de sempre, com as pessoas de sempre. Até então, nada de
diferente. Olhei pela janela para ver a paisagem já tão conhecida por mim e
então eu senti.
O cheiro. Não qualquer cheiro. O Dele. Não sei nem descrever como
ele é exatamente, mas sei que reconheceria mesmo que se tivesse passado 80 anos
e não apenas 1. Automaticamente eu levantei a cabeça para ver quem era o dono
daquele cheiro maravilhoso. Mas não havia ninguém de diferente e absolutamente
ninguém havia passado por mim.
Aproveitei para sentir aquele pedacinho “mágico” de
você perto de mim de novo, fechei os olhos e fiquei ali respirando o seu
cheiro. Foi como se você nunca tivesse saído ali do meu lado. Me lembrei das
conversas, das brincadeiras e até das suas piadas fracas. Eu posso jurar que
cheguei até a ouvir a sua voz no meu ouvido.
Inalei o cheiro de novo, dessa vez com mais força e lembrei do
jeito que você me olhava, do modo que a sua testa franzia quando você não
entendia o que eu dizia para você. Eu lembrei da sua gargalhada e até do seu
jeito de implicar comigo.
Mais uma respiração e o cheiro ficou mais forte. Então, tentei
procurar me lembrar onde eu tinha sentido o seu cheiro tão forte assim e porque
eu senti esse calorzinho dentro peito, que me fez ficar viva de novo. Mais do
que viva, inteira.
Foi como se eu estivesse lá, de volta naquele beijo com você. Pude
sentir de novo até mesmo o frio na barriga daquela hora. E aí eu me assustei,
porque percebi o quanto eu sinto a sua falta. Não porque eu te ame, até porque
esse sentimento nunca existiu entre nós, não como casal, pelo menos, mas eu sei
que cada célula do meu corpo quer você e sabe que você é perfeito para mim.
De repente, o cheiro mudou de lugar e
eu abri os olhos. Aquele perfume que eu nem sei qual é tinha outro dono, que
infelizmente tinha que descer do ônibus. Mas ficarei eternamente grata ao cara
que me fez ter você de novo, pelo menos por algum tempo.
Thalyne Carneiro
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