Olho
para ele é automático. Ela logo começa a quicar de ansiedade e como se já não bastasse
ainda tagarela dizendo:
-Anda,
fala com ele! Fala logo!
-Shh,
não vou falar com ele!
-
Por favor! Por que você faz isso com a gente? Eu sei que você também quer isso!
Eu
sei que isso parece uma criança mimada, mas essa daí também sou eu. Não, não
fiquei louca ou esquizofrênica. Essa é uma parte de mim que eu procuro não
mostrar para as pessoas, por que sei do estrago que ela pode causar. E isso é
um pouco perigoso.
Essa
parte de mim é a parte de age por impulso, a que faz o que quer na hora que
quer. E isso já é o motivo o suficiente para deixá-la trancada, mas ela insiste
em querer fazer parte das coisas. Principalmente, quando não posso fazer algo
ou não quero porque é errado.
Na
verdade, acho eu todo mundo tem essa parte de si trancada, mas isso não vem ao
caso no momento.
Como
eu ia dizendo, ultimamente, ela anda louca para se soltar e isso não é bom.
-
Mas você só vai falar “oi”?! Dá um abraço nele! Anda!
-
Não, eu não vou fazer isso! Fica quieta!
E
tem sido assim há mais de um mês. Ela vê ele e logo começa. Não seria de todo
ruim ela me dar uma forcinha, afinal ele é uma graça. Mas eu sei que ela quer
tanto porque ele tem namorada e ela adora um desafio. E sabe também que não
quero fazer nada por causa disso. Juro que tenho tentado deixá-la calada, mas
ela sempre arruma alguma desculpa para tentar me convencer.
Estava até dando certo, mas parece que ele
adivinha que ela está aqui e isso não é nada bom. Por que a cada indireta,
olhar, sorriso e afins, ela reage e fica me apontando esses detalhes que ela
sabe que eu tento não notar.
Cada
vez que eu tento resistir, ele e ela tentam me fazer mudar de idéia. Sei que é
errado, mas estou oficialmente desistindo. Já que ela quer sair para brincar e
ele quer ajudar, não sou eu que vou atrapalhar. Afinal, se ele não lembra da
namorada para cutucar a minha criança mimada, não sou eu que vou lembrá-lo da
existência dela. Isso é um problema dele, apenas acho.
Thalyne Carneiro
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